SOBRE SER VEGANA E SER FELIZ

08:32



Há muito tempo eu queria escrever sobre esse tema e falar da minha experiência, mas eu nunca me senti pronta e digna de escrever sobre isso. Mas percebi que é besteira, porque isso é também sobre mim e talvez essa caminhada nada perfeita também te inspire. Veganismo e vegetarianismo não é para super humanos ou gente perfeita, é para qualquer um que queira mudar de vida e fazer diferente para si mesmo e para o universo.

Para iniciar, vou explicar rapidamente o que significa veganismo e aproveitando para falar do vegetarianismo. Não preciso nem dizer que tanto ser vegano quanto vegetariano significa não comer carne, NENHUM tipo de carne, isso mesmo, nem frango, nem peixe, nem camarão, nenhum animal, nenhum.  Vamos lá, o vegetarianismo se divide em algumas vertentes como: ovo-lacto (pessoa que consome ovo e leite), ovo (consome ovo, mas não leite), lacto (consome leite, mas não ovo) e vegetarianismo estrito que são pessoas que não se alimentam de animais e de derivados, porém em seu dia a dia acabam utilizando produtos que não respeitam as causas dos animais, como por exemplo, utilizar produtos de saúde e beleza que testam em animais.

Eu me considero vegana, mas eu sei que cometo muitos erros que me colocariam na casa do vegetarianismo estrito, e para falar a verdade, não me importo sobre isso, me importo com meus comportamentos e com minhas atitudes. Enfim.

Como sei que isso vai virar textão, vou separar por títulos e aí você pode ler exatamente aquilo que te interessa.

Por que virei vegetariana/vegana?
Eu não lembro ao certo como esse pensamento surgiu na minha cabeça. Quando penso sobre o assunto, tenho impressão que há 5 anos eu nem sabia o que é vegetarianismo. Também não lembro a primeira vez que ouvi falar sobre isso, mas dentro de mim eu sempre tive impressão que eu sabia o que era e que eu não nasci para comer carne. Eu sei que soa estranho, mas eu sempre vivi tentando não pensar sobre o assunto, porque sempre eu me culpava por comer carne e isso sem nem saber para que lado soprava esse tal vento do vegetarianismo.

As coisas mudaram devido a dois acontecimentos. Há algum tempo, eu não era muito sensível com as pessoas e coisas ao meu redor, não tinha empatia. Vivia a vida com o botão do "foda-se" ligado e apesar de ter crescido na igreja, a última coisa que eu praticava era o amor. Não lembro também quando me toquei disso, mas eu lembro de uma oração que eu fiz e eu pedi para Deus "me deixa ver as pessoas e o mundo como o Senhor vê, me dá amor e compaixão pelas vidas, pelos animais, pelo universo, não quero ser essa pessoa fria". Ele me ouviu.

Na virada de ano de 2014 para 2015 fiz o compromisso de parar de tomar refrigerante, algo que eu era no sentido mais profundo da palavra viciada. Se eu não tomasse meu dia não era feliz e eu tinha a capacidade ATÉ de julgar Deus porque ele poderia me dar tudo, como deixava faltar minha coca-cola de todos os dias. Era uma devoção por refri. Uma bebida. Percebe a loucura da situação?

Conviver sem refri me fez perceber que a gente dá importância para coisas que não tem importância. Era só uma bebida, eu vivi muito bem obrigada sem. Meu corpo mudou, respondeu muito bem, comecei de dentro para fora a querer comer melhor, passei a beber muita água e as mudanças começaram a acontecer. Se eu poderia deixar de beber refri que era algo que eu não vivia sem, por que não conseguiria viver sem carne que era outra coisa que eu tinha certeza que não poderia parar de comer?

E então veio a situação decisiva. Recebi uma petição online no meu e-mail me chamando para assinar para salvar cachorros e gatos que seriam mortos em um festival na China. Eu assisti um vídeo sobre isso e eu lembro que eu chorei muito tempo, tipo dias. E em um desses dias eu fiz a ligação: por que você chora por uns e come outros? Cadê sua compaixão pelos outros? Você quer que os chineses parem de comer os animais que você ama, mas come um animal que é sagrado em outra cultura, como a vaca na Índia. Que hipocrisia.

E então na virada de ano de 2015 para 2016, sem ler NADA sobre o assunto, eu virei vegetariana. Comecei ovo-lacto, depois assisti um vídeo sobre a produção dos ovos e como as galinhas sofrem e da mesma maneira como é cruel a indústria do leite. Virei estrita. Mas o que adianta não comer e usar produtos do sofrimento dos animais e vestir suas peles? Me tornei vegana e foi da noite para o dia, nem lembro a data.

Ser vegana não me ajudou só a ter compaixão pelos animais, minha relação com os humanos também mudou. Não adianta eu me sensibilizar pelas causas dos animais, sem lutar pelas causas da minha própria espécie. É por isso que comecei repensar meus hábitos diários para cuidar melhor do planeta, comecei a ler e entender sobre escravidão humana e, principalmente, comecei a ter empatia pelo sentimento e sofrimento das pessoas ao meu redor.

Eu não sei explicar, mas eu me sinto limpa por dentro, viva, conectada por algo maior. Eu olho para as pessoas nas ruas e os animais e não me sinto mais distante delas, eu faço parte, sou elas.


É fácil ser vegana?
Não, não é fácil sair do comodismo. Não é fácil descobrir que tudo o que era considerado normal, não é. Não é fácil abrir mão de prazeres do paladar, não é fácil. Mas quando você está conectado com uma causa maior, fica fácil.

Nós temos uma relação de independência com comidas muito doentia, eu diria. Comida é só comida. Um alface e um hambúrguer são iguais, é comida. Nós não precisamos nos presentear com comida, viver para comida, morrer por comida, nos matar por comida, perder a saúde por comida. Comida tem que nos manter vivos, fortes e saudáveis, não ao contrário. Mas a gente dá a comida o poder de ser o senhor de nossas vidas e aí fica difícil abrir mão de muitas coisas.

Se você leu esse trecho e ficou "ai que absurdo ela falar isso de comida, da minha lasanha, do meu x, do meu y", meu amigo, você dá muita importância para comida. Não deixa isso guiar sua vida. Olha o tanto de comércio de alimentos. Mesmo com crise, as pessoas deixam de fazer outras coisas para comer, o ser humano deposita na comida todo o sofrimento e frustração da própria vida. Estou sofrendo, vou comer. Estou triste, vou comer. E também dá a comida um status de presente máximo  e recompensa. Nossa, consegui fazer isso, mereço uma comida.

Experimente se amar, se presentear, se curar por dentro. Com você mesmo. Não torne algo, uma coisa, mais importante. É tornando sua comida o senhor da sua vida que você pensa "Deus que me livre viver sem meu hambúrguer, a vaca que se exploda". Como um chinês diz "Deus que me livre viver sem comer cachorro, ele que se exploda". Dane-se a vida que está morrendo, eu quero me recompensar com isso e não vou me importar porque não vivo sem isso. Vivemos escravos de comida. E isso parece fácil para outras pessoas e ser liberto difícil.

O que eu como?
Tudo, menos carne e derivados de animal. Simples assim. O mundo vegetal é vasto e rico. Eu posso fazer TODAS as comidas do mundo em uma versão vegetariana/vegana, mas eu acho fantástico me alimentar do verde, de vegetais, do que vem da terra, do que é vida. Eu quando era carnista pensava que seria muito sem graça comer sem carne, mas não é não. É um prazer que foge do paladar, a energia é outra. Só vivendo para entender. Tente. Existe um campanha chamada Segunda sem carne, o nome já diz tudo. E é legal para quem quer saber como é não comer carne sentir a diferença e ver como é. Um dia na semana sem comer para você pode não ser nada, mas causa um impacto muito grande em várias áreas. Visita o site deles e leia mais sobre isso: clique aqui.

Tirando isso, existem muitos sites, livros, blogs e afins, ensinando receitas deliciosas e ricas para você tentar. Sendo vegetariano ou vegano você só passa fome, se quiser. Inclusive eu nunca comi TANTO na minha vida. Só quem convive comigo sabe, eu como horrores, muita comida. Mas ela não me comanda, eu comando ela.

O que mudou para melhor depois que virei vegana?
Bom, para começar minha relação com o universo e os animais. Esse negócio de se sentir conectada e fazendo parte de algo maior, como eu já disse acima, é algo difícil de se explicar e que eu nunca havia sentido antes. É algo muito forte e muito BOM. Ter compaixão, amor, empatia e respeito por outras pessoas e pelos animais me fez ser uma pessoa melhor, mas eu tenho muuuuito a melhorar,com toda a certeza.
Eu sempre tive problemas para acordar cedo. Acordava todo dia querendo dormir, indisposta, triste, toda coisada. Isso mudou. Todo dia eu abro o olho, e em questão de segundos, sinto uma energia muito gostosa, uma vontade de viver e ser feliz. Mesmo em dias em que eu durmo triste, muito triste, eu acordo felizinha. E isso foi exatamente depois que parei de comer carne.

Alergia. Eu sempre tiver muita alergia. Mas muita mesmo. Toda semana de todo mês ao longo de anos. Era péssimo. Descobri que o leite estava me matando. Eu não vou falar muito sobre isso para o post não ficar mais longo, mas se você tiver qualquer doença que termine com "ite", rinite, sinusite, bronquite, artrite, grastite, leia mais sobre o leite. NENHUM, NENHUM, ser humano PRECISA ou foi feito para beber leite DE VACA. Só quem precisa de leite de vaca são os bezerrinhos, nós precisamos de leite humano e só até atingir certa idade, depois com os dentes, chega de leite da mamãe. Mas nós aprendemos desde cedo a beber leite de vaca e de outros animais e é óbvio que nosso organismo não foi feito para isso. Enfim, leia mais sobre isso.


O que mudou para pior depois que virei vegana?
Tem certas coisas que me irritam como: não encontrar comida fácil, tipo, no shopping eu não como nada, só batata frita. Em todo lugar, é batata frita. E só. Isso me irrita MUITO. E a facilidade de poder comer tudo era muito melhor, claro.

Mas o que mudou para pior é viver em paz. Todo mundo se acha no dever de me criticar, me julgar, dizer quanto carne é gostoso e fazer piadas e comentários que me machucam mais do que eles pensam. Uma vaca para mim não tem menos valor do que um ser humano. Eu já tenho que suportar viver e dormir sabendo que inúmeros animais que eu amo e respeito estão morrendo e sendo abusados pelos da minha espécie. Aguentar deboche e piadas sobre o sofrimento deles me causa uma revolta e uma tristeza que não cabe em mim. Vergonha é o que eu sinto.

Todo mundo pode apontar o dedo para o meu prato e fazer o comentário que quiser. Mas quando eu digo que carne é defunto, eu sou extremista, eu não tenho RESPEITO com as outras escolhas, mas ninguém tem respeito com quem escolheu não comer carne. E isso é uma regra. Eu posso contar no dedo pessoas que eu disse que não comia carne que depois de um elogio raso não começou a falar sobre bacon e porcos mortos. A a pior parte de ser vegana/vegetariana: aguentar seres humanos sem empatia. Então eu digo que minha convivência, principalmente, durante festas, etc, ficou pior e estressante. Eu não sou o tipo de pessoa que fica feliz quando em um lugar está todo mundo falando sobre eu não comer nada e dizendo o quão gostoso é bacon, ou ainda deixar uma pessoa desconfortável porque ela não tem nada que eu coma. Isso dói. Muito. Mas vida que segue.


Vegetarianismo/veganismo emagrece?
Vegetarianismo/veganismo NÃO É DIETA. Não é sobre emagrecer e ter corpo bonito. Não é. Você pode até entrar nisso querendo só emagrecer, mas eu acho muito difícil você aguentar por muito tempo, só aguenta quem tem uma causa maior. É uma reeducação alimentar e de vida, você tem que se mudar por dentro antes de querer ver resultados por fora.

Outra coisa, eu perdi aproximadamente uns 20-25kg depois que virei vegetariana/vegana em 10 meses. Mas eu não estava pensando nisso, eu estava "só" vivendo. Conheci outras pessoas que perderam até mais e eu sei que quando começar a me exercitar vou perder mais peso também. Mas conheci pessoas que engordaram, ou seja, vai muito do que você come. Quando era ovo-lacto, eu quase me perdi, porque eu podia comer tudo o que é gordo e não saudável, vivia a base de sorvete, bolacha, chips e chocolate. Dá para emagrecer assim? Não. E a saúde: 0.


Para finalizar esse post super grande, quero deixar uma reflexão bem forte e verdadeira para vocês que eu gosto muito de ler, receber esse tapa na cara e continuar firme:

"Os animais que você come não são aqueles que devoram outros, você não come as bestas carnívoras, você as toma como padrão. Você só sente fome pelas criaturas doces e gentis que não ferem ninguém, que o segue, o servem, e que são devoradas por você como recompensa de seus serviços."
 _ Jean-Jacques Rousseau 




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